quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Reféns

Papéis
e mais papéis

Estuda-se tanto
para assiná-los

Papéis e mais papéis
até o próximo big bang..

31-12-09

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Quimera das tardes abafadas

Hermético, travado
Virado em mordaça

É tudo o que me define,
quando à mercê da tarde brasa,

Tarde que inveja noite,
deserto sem oásis,

Antítese de mar

Eu queria ser chuva,
benção do vento,

Queria cuidar do teu pomar


21-12-09

sábado, 19 de dezembro de 2009

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Dos bens de Frigga

Quando cansa de suas jóias,
Frigga arma,
no alto da montanha,
um tablado

Flamenco nada lhe toca,

Vinho? Despreza

Recusa-se Fulla
a tomar conta das danças,
nas noites em que neva adoidado

Então Frigga volta-se para seu ouro,
seus diamantes,

Para seus segredos guardados

15-12-09

domingo, 13 de dezembro de 2009

A mulher do barbeiro

Moravam do outro lado da praça, pertinho da barbearia. O marido colecionava navalhas. Carregava uma, permanentemente, no bolso da camisa, como se fosse um amuleto. Se sua mulher era elétron, o Belico era próton. Estavam apaixonados. E, nas tardes insuportáveis de verão, enquanto o marido trabalhava, eles se amavam. Ela, quando de quatro, na beirada da cama, enxergava o paraíso, desde que fosse com o Belico, além do que, ela o tinha como o rei das preliminares. O Belico se achava esperto. Tinha um amigo engraxate que ficava de prontidão, frente à barbearia. Em caso de perigo, enquanto estivesse na cama com ela, o guri lascava um assobio característico, inimitável. Naquele dia de quarenta graus, o guri descuidou. Abandonou o posto e foi comprar um sorvete. O barbeiro, louco de sede, resolveu ir até em casa pra beber uma limonada. Ela, de quatro na beira da cama, o belico em pé. Os dois no céu. O Belico despertou do transe quando ouviu passos na sala. Quando chegou à janela, o barbeiro segurava a peça de sua coleção na mão. Pelado, com meio corpo para fora do parapeito da janela, sentiu um queimão na nádega, que resfriava, à medida que corria em disparada pela rua. Nunca quis fazer plástica, o Belico. Nem queria esquecer aquela mulher. Manteve, até morrer , aquela cicatriz como troféu.


 13-12-09

sábado, 12 de dezembro de 2009

Blues para Jim Morrison

Andava longe de casa
Homem das ruas

Íntimo do vento
Das árvores

Do espírito dos passantes
Da lua
Da negra alma do blues

O calo do autoritarismo da América
Lutava contra as guerras
Pela sua paz interior, em busca da luz

Encontraram
O discípulo de Baudelaire

Exilado
Em um hotel de Paris
Na banheira, estirado

Foi sua noite
Sem bis

......
Paris, ano 2000
Na sepultura dele



Geldfrage

Glaube

Die Erde geht es nicht runter,
Wie die "Fachmänner" meinen,

Dass sie wahnsinnig geworden sind,
haben Viele, viel daran zu leiden

Kann Der Mensch es vermeiden?

12-12-09

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Das ambições

Fotografo em preto e branco,
revelo
em laboratório restrito

Um escuro, logo claro
metamorfose sem reverso

Diferente delas,
muitas outras rumam ao sucesso,
às calçadas da fama,
como personagens de um folhetim colorido

Às minhas bicolores
basta no porta retrato,
a alegria breve,
de um momento vivido

09-12-09

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Anestésico

Zune a broca maldita

Como se fosse a dona
do quarteirão


É o alerta


Enquanto a porta não abre

Tenho tempo para mais um poema

03-12-09

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Do molde dos lábios

Tuas florestas, tuas aves são raras
Sem sorte,  são os que  não percebem teus versos tropicais

Os atentos a eles,  envolvem-se com a beleza de tuas praias
O rodado da tua saia
Eles tem a certeza de serem os donos das ilhas
Veem as maravilhas, como nos poemas de Cecília

Deixa estar, amor
O tempo envelhece os mortais
A ti, acaricia
Jamais verás casas vazias

02-12-09

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Consumistas secretos

Evitaria, desta vez, balanços de finais de ano.
Escritorzinho barato !

Nada de críticas , nem as auto.

Morreria e deixaria viver,
não encheria o saco da felicidade, nem da pseudo.

No peito bate uma vitrine.

01-12-09

domingo, 29 de novembro de 2009

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Metrô

Passa a mão na marmita
Urge, ruge a construção

Vira massa na obra
Humilde guerreiro que manobra

Agoniza
Clima, terra vulcão

Da toca chama a escassez do inferno
Dois pequenos choram
O terceiro dorme, sonha que mama

Ela faxina no bairro burguês

Vai ganhar o  leite
Que é o poema vindo do céu

19-11-09

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Repinique

Precisa-se de samba
por três a quatro dias
uma batida de bamba
de doce melancolia

Um que fale de saudade
palavra bem brasileira

Outro na flor da idade
pra deixar alma faceira

Remédio de fim de semana
de quem ama e sente tédio

Enrola o sono na cama
faz das ruas o seu remédio

Precisa-se de um samba amigo
daqueles que todas abraça

Será nesses dias um abrigo
depois isso logo passa

17-11-09

domingo, 15 de novembro de 2009

Zen

Os cães da vizinhança cessaram de latir
Faz uma hora, aproximadamente

A paz foi utopia, até que
Funcionários da companhia de luz não completassem o serviço de manutenção dos postes na rua
É o que me contam
Quando retorno de minha incursão dominical.

Pior é o efeito dominó. Cachorro do vizinho late para o outro vizinho
Depois o dono late para os filhos e a família toda devolve os latidos

Enquanto escuto parte da narrativa, ainda no elevador
Enfio os fones do Ipod nos ouvidos , a todo volume.

Ao menos, serei mordido ouvindo música
No meu retorno à civilização

15-11-09

sábado, 14 de novembro de 2009

Rendição II

Rendem-se meus olhos, querem os seus
Em cima de mim

Ponteiros parados
Duelos, abraços
Carícia nos traços

Carne, pavio
Arde
Cio

Tapa no destino
Um porto
Cais de dois barcos

Exausta
Meu peito, travesseiro
Meu corpo, seu leito
Um sussurro de "cuide-se"
Por fim

14-11-09

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sangue bom

No teatro Opinião samba uma Diva
José Do Patrocínio chega cedo
Combina com Lima e Silva
Pra amanhecer na João Alfredo

Caipirinha, cerveja, churrasquinho
Sorriso, pelo pão suado da batalha
Tem refrão nos bares do entorno
Hoje é nossa vez, Mart'nália!

13-11-09

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Versteckte Sterne

Wache Montags auf
suche, was von mir übergeblieben ist

Untem dem Bett
schläft ein Gespenst,
der meine Fürchte zum tanzen will

09-11-09

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

sábado, 31 de outubro de 2009

O maestro

Perdeu o emprego
Casa, carro, cachorro
A família e o sossego

Foram-se a batuta e os amigos
Restava-lhe, apenas, o mais caro abrigo

Se perdesse a musamada
A  planta que seu coração regava
Teria que (re) aprender a reger sua orquestra, sem os braços
Juntar aos poucos, pelas ruas, seus pedaços

Teria que reinventar sua estrutura
Sua pele, seu ópio, sua cura

30-10-09

domingo, 25 de outubro de 2009

Miscelâneas

I

Noz noscada

Pimenta coentro orégano
Sálvia
Salsinha louro...

II

João-de-barro sabiá canário
Gavião maçarico chupim cardeal
Curió pintassilgo caturrita

Quero, queremos
Quero-quero

Abaixo as gaiolas!

Braço verde mar adentro

Vida
Voltando pra onde nasceu

Bem que vi
Bem-te-vis

Abelhas

Itaúba
Mato meu


III

Urbanos
Humildes sul americanos
Sigamos as diversas partituras

IV

Mandioca
Caldo de cana melaço
Caipirinha cocada
Amendoim paçoca rapadura...

25-10-2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Lentes da alma

Um par de cada vez
Ela vai se adonando
Dos olhos que passam

Vivemos de nossos fregueses
Que dentro de nós se instalam
Todos de uma só vez.

De posseira à  freguesa

21-10-09

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Olimpíada

Pôrto Alegre, sexta feira nublada,
trânsito tranquilo...

Mas o que é aquilo?
Quase um acidente!!

Mané xinga zé, que rexinga mané

Mané puxa a arma, sai à caça de zé...

Dois quarteirões adiante, estampidos.

No ar, cheiro de morte...

Nos lares de Porto Alegre fala-se mal do Rio de Janeiro...

16-10-09

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Estoque zerado

Tamanha era a pressão dentro de casa que o tio da Ana Lúcia não suportava, se mandava porta afora rumo ao chinaredo
Nem era pra ter sexo com as prostitutas, chegava no cabaré pedia uma cerveja no balcão do bar e proseava fartamente com as gurias até se cansar

Tinha como inimigo o relógio, cujos ponteiros a seu ver, andavam muito depressa

Gente fina , o tio da Ana Lúcia, dizia Maria a dona da mercearia
Não merecia, noite sim outra também, deitar-se com uma jararaca em casa
A situação ficava crítica, quando o estoque de soro anti-ofídico zerava no posto de saúde da cidade

15-10-09

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

domingo, 4 de outubro de 2009

Rio acontece mar

Um casal de turistas brasileiros é discriminado por um motorista de táxi em Lisboa, desconfiado de que não lhe paguem a corrida
O passageiro , com o dinheiro na mão, defende-se
A mulher está apavorada

Sou a gostosa da Rocinha e tenho poder
Sei que o dono da padaria me deseja...

Uma ampola de vinho Bordeaux é deflorada no Sena junto à Pont Neuf
Para deleite dos amantes

À cata de um ônibus na Avenida Carlos Gomes, ela ruma para o Jardim Botânico
Enquanto lembra das noites de St. Pauli em Hamburgo

Depois do doce inferno de Dante, plantas e flores

Sou cego, mas escuto o Rio  fluir...

04-10-09

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Janelas

Não quero conhecer seu passado
Somente, se quiseres que eu saiba

Quero saber do presente
Foi lá que lhe conheci

01-10-09

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Continente

Temo o tempo
Tenho pressa de reencontrar meu lugar

Temo a distância
Ela  me  impede de conhecer a fada
Que faz poemas para os ventos

Cidade arte, arteira
Tão linda, tão cosmopolita
Eu queria ser um pingo de água do mar
Regido pela tábua de tuas marés

30-09-09

Anjopoeta

Despiu-se das asas, estendeu-as sobre a cama
Abrigadas do frio da madrugada

Saltou pela janela
"Meu destino", disse ele

"Eu mesmo faço"
Mais tarde, volto e as apanho
"Agora, desenho uma pista de pouso na calçada"

30-09-09

sábado, 26 de setembro de 2009

Private Strasse

Die haben den Karneval
zum norden Teils der Stadt geschickt
sie finden das sehr chiq

Guetho statt Boulevard

Die "verkleidete" Gaúchos, Ihnen gehört Die macht
So haben sie " Raus der Innenstadt "
den Nigern gesagt

Sehr tolerant,

Mann Lebt zwar im Jahr 2010
oder, ...............ist das nicht war??

26-09-09

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Filho do Samba

Quando cantas pra Deus
Não sei qual deles homenageias
Mas a saudade do teu pai é que dói na gente

Madeira sem nó
Samba que escreve poesia
Brinda ao Amarelinho
Onde ele amanhecia

Vozes das quatro estações
Das madrugadas sem hora
Eternamente despertas
Nas cores de um crepúsculo
Na disfarçada virgindade das auroras


23-09-09

terça-feira, 22 de setembro de 2009

domingo, 13 de setembro de 2009

Sanfoneiro

Prepara-se, meu pai
Lùcido
Aos noventa e um anos completos
Na reta final


Uma gaita de muitos foles
Espelho, amigo concreto

13-09-2010

sábado, 12 de setembro de 2009

Arco-íris II

Cinzachuva nas vidraças

A cada nota de Confortably Numb
Waters derruba um pedaço do muro

Passeio nos jardins
Eu enxergo colorido

Por entre Berlins, Bom Fins
Escuto o som de Nei Lisboa

Depois da teimosa garoa
Virá uma primavera sem fim


Abril, 2014

Fotografia, Berlin (Alexanderplatz)
Maio, 2014


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Submarinos

Brinquedinhos nucleares
São bem mais bonitinhos

Tudo pelo social

Um barquinho pra Marinha
Defesa no lugar de pesquisa
Argumento bem sacaninha
De uma história sempre igual

07-09-09

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Ein alter Traum wird wahr

Würde gern im Amsterdam leben

Nur für eine Zeit

Hier fühle Ich mich wohl
Meine Träume kommen  sicher weit

20-08-2009

Nevos melanocíticos

Pronto para a pequena intervenção
Adentro no ambulatório

O Doutor pede minha mão
A direita

Eu
Num clima de velório

Doutor, não é na mão

É, quase
Do lado do coração

Estou no lugar de outra paciente

Ela estava gripada

A  cirurgia dela
Foi desmarcada

Ah!
Agora lembrei do seu caso
Diz o cirurgião

Só então, apaguei

20-08-2009

domingo, 16 de agosto de 2009

Pupilo

Quando anoitece, me perco

Todas as vozes são tuas
Eu festejo

Calado , eu queimo
Desejo

Nos bares, nas baladas
Teu nome é o verso que eu vejo

No teu sono que gravo em papel
Imagino cascatas
De beijos

De manhã, minha face no espelho
É molhada de vida, que é tua

As águas que banham teu corpo

São meus dedos, descobrem-te
Nua

Me encontro teu aprendiz
Navego no mar dos segredos

Aluno de tuas lições
Ganho a rua

Senhora
Dos meus medos

16-08-2009

sábado, 15 de agosto de 2009

Bei Der Reise

Selbst Wenn Ich ausser Mir reise,
treffe Ich Dich unter den Schätten

Dan sollst Du die Sonne bringen,
Da Ich den Weg erkenne

Wäre Ich nicht blind, Wenn Ich Mich nicht nach Dir sähne??

15-08-09

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Casa poema

No Rio de Janeiro em Botafogo
Mora uma casa diferente

Seu teto
Serve pra Maria, João
Advogados, políticos
Pro Beto, até pra médico e arquiteto

Dizem ser uma casa linda
Por fora e por dentro
Como Elisa Lucinda

Grande ou pequena
Tamanho não é tema

Uma casa sem luxo, com muito afeto
Só podia ser Casa poema.

07-08-09

sábado, 1 de agosto de 2009

Vitrais de Lis

Flama......................inflama..........se inflama
Jazz,canto,encanto, luz da semana

Nuvem, teatro,cisne, cinema,emblema..........Ipanema
Dorme desperta trabalha...................vira chama

Clara, claridade é nome de quem....................ama
Angela,Rita, Maria............................................Ana

Esperança, Saudade, como se chama?
Doce lágrima, Nara, um nome bacana.................

.........................Elis.................Lis...............Elisama.

01-08-09

terça-feira, 14 de julho de 2009

Bastilha

Nenhuma novidade
Antes das cinco da manhã, correr ao encontro de uma isca
Até o outro lado da cidade: Liberdade

Políticos, impostos, sistema
Muitos a seu lado na arena: Igualdade

De tanta pressa
Nem ligam o pisca-pisca
Lutar pelo pão é o que interessa: Fraternidade

14-07-2009

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Fio da esperança

Não jogue a toalha !
Pode ser que , antes do final do jogo, alguém do time deles junte um sabonete.

29-06-09

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Teia

A vergonha, em Brasília, nasce de azuis poltronas
De um carpete
Mais alto que qualquer capim

Podres, tardiamente, vem à tona
Algo há por trás das balas de festim

Permuta-se, enrola-se
Usa-se, desfruta-se
Sacaneia-se
Tece-se a teia de seu próprio fim

26-06-09

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Zeit und Liebe

Was haben wir zu verlieren,
Wenn unsere Liebe kommen und gehen,

Können wir zwar daraus nichts, sonst lernen
Wenn die Zeiten nicht bleiben stehen...

12-06-09

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Troquem, vocês, os seus sensores

Por um bom tempo,
daqui pra frente, voar,
só se for de porre, e bem caprichado.

Não sou nenhum masoquista.
Digam, de mim, o que quiserem.

Entro, no avião, com uma garrafa de Jack
embaixo do sovaco, quase vazia,
pois a primeira já terei sorvido em terra firme.
Meus sensores trabalham bem melhor ali.

Não me venham com teorias conciliatórias,
tese de especialistas, estatísticas, analistas,
mídias carnavalescas.

Tenho assistido filmes demais ultimamente.
Deixem-me, em paz, com minha coragem...

10-06-09

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Aprendizes

Errar e acertar, por aí
Tropeçar no tempo

O tempo nada mais é que um intrometido
Com o poder da cura

Quem nunca amou
Nunca conheceu sua "Luiza", é muito azarado

01-06-2009

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Acredito

O Weser
Transformaram-no em canal para navegação

Margens sem areia contornam o centro da cidade
Mas ainda existe verde, logo adiante, perto do estádio.

Os cheiros, no ar da cevada e do café torrado são de verdade

Cemitério de suicidas, raia de remadores
Refúgio de namorados
Paixão das bicicletas...
O Weser é o rio que a cidade venera.

Quando faz muito frio, dizem que congela.
Eu nunca vi, mas pelo estado das minhas orelhas e da ponta do nariz
Juro que acredito

23-02-92, Bremen.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Selbstkritik

Às vêzes, nem percebe,
passa uma lição de moral...

Depois de muita briga com as palavras,
parece que afina o ritmo,
como um rio que segue seu curso...

Deságua num oceano de dúvidas,
vira chuva limpa, toca a terra,
certa de sua necessidade.


30-04-09

terça-feira, 28 de abril de 2009

Companheira

A música flerta com a suave melancolia
Tira onda da saudade
Rege a existência, adoçando-a aos bocados

28-04-09

domingo, 19 de abril de 2009

Duas taças

Tem jogo que precisa ser vencido


Tem dia que é de graça
De erguer as taças
De botar a bateria na rua

Tem hora que é de festa
De esticar a seresta
De namorar com a lua

19-04-09

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Mail

As imagens escorrem como água entre os dedos
Ressurgem no corredor das lembranças

Há uma caixa de correspondência, um abrigo
Para uma carta que descreve duas silhuetas
Um prenúncio de um encontro


08-04-09

sábado, 4 de abril de 2009

Propósito

Um norte para essa gente, por favor !
Que não seja, somente, de uma de bússola

Bem-vindos os "robots"
Que pensam

Eles são diferentes

04-03-2009

quinta-feira, 2 de abril de 2009

terça-feira, 24 de março de 2009

quarta-feira, 18 de março de 2009

Achados e perdidos

Nestes tempos
Procura-se a identidade

Não, a carteira, o documento
Mas,  a marca da pessoa
O que ela é de verdade

A  carente não sabe
Nem mesmo se perdeu

Ela procura com vontade
Onde esconde-se o seu eu

Entregue, por favor, nos Correios
Ela passa lá e retira

Até lá
Com a outra, ela se vira

18-03-2009

terça-feira, 17 de março de 2009

Um bundão, vários bundões

Que o cara tenha um estilo de vida ortodoxo
Este é o pré requisito, para que ele entre na sua turma?

17-03-09

segunda-feira, 16 de março de 2009

Autofagia


Precisamos dar  um nome
A esse novo sistema

Apesar de nosso ceticismo

O valor da moeda
Engole o capitalismo

16-03-2009

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Flagrantes da vida de um reino

É mãe com filho no colo no posto de saúde, lutando por uma ficha
É a moça que perde o bônus na fábrica

A futura mãe que vem de outra cidade,
porque não conseguiu médico

Da sala de espera de um consultório dentário
Avista-se uma mansão no morro

Seu dono, condenado a prestar trabalhos comunitários
Jamais devolverá o dinheiro dos impostos sonegados

26-02-09

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Coragem

Lá vem a corajosa Portela
Cantando o amor na avenida
Parece goleador que ressucita
Quando anda esquecido da vida

Tempos difíceis
Bons centro-avantes jogam no estrangeiro
Maquiado, diluído, mercantilizado amor
Agulhas, palheiros


24-02-09

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Seringueira da Visconde do Herval

Camuflas o passado entre tuas folhas
Somos teus servos nas tardes preguiçosas
Tuas raízes escancaram a calçada

Como é custosa tua liberdade!

Aparentas ser insensível, mas te agitas
Quando um de nós parte

Tentamos mudar o mundo sob tua sombra, árvore chorona
Teto de infinitas saideiras

07-02-09

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Zum Regina's Geburtstag

Ab und Zu kommt es mir vor,
ich kann Gedichte nicht schreiben,
plötzlich wird es mir klar,
dass Grau überhaupt nicht die schönste Farbe der Welt ist
und die Wahre Freundschaft sieht wie sauberes Wasser aus,
die Freundschaft von Regina und Rudigar.

Bremen, 19 Februar 1995

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Temperaturas urbanas

Imagina-se seja o Paraíso cobiçado,  um shopping center no verão
Uma espécie de esconderijo,  pra quem não tem ar condicionado em casa

30-01-09

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Muro e preconceito

Um cara, de seus sessenta anos,
vem em minha direção, na Lloyds Passage, em Bremen,
ao mesmo tempo em que, ao meu lado, passa
um apressado casal. Ela, uma alemã loiríssima, de seus 28 anos,
linda de atar. Ele, um negro, suponho africano. Ambos trocam carícias.

O cara para na minha frente e diz: "Traurig, nicht? " (triste, não ?).
Eu respondo: "Trauriger sind die Bomben über Berlin 1945 gewesen, meinen Sie nicht? "
(Mais triste foram as bombas sôbre Berlin em 1945, o senhor não acha?)

Arregalou os olhos, estupefato. Devido a minha tez clara, talvez,
não contava que eu fôsse estrangeiro. Logo depois da queda do muro,
as coisas começavam a mudar para as duas Alemanhas.
Algo mais caia, além de um muro, a loira que o diga...

26-01-09

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Meisenfrei

Pedi uma halbes Beck's von Fass,
Olhei pro Andreas e disparei:"Tô com saudades dos Brasil"

Natürlich, disse Andreas, como querendo consolar-me.
Lá fora, uns 7, abaixo de zero. A rua, escorregadia como uma pista de esqui.
Ambos de bicicleta, estacionada frente ao bar, porque bom bebedor não se intimida.

O Meisenfrei fecha à uma da manhã.

Ceva vai, ceva vem, Andreas me conta que está apaixonado ,
Por uma Angolana, a familia dele não concorda com o namoro.

Pergunta como é no Brasil, pede conselhos
Ele engana-se, certas matérias não dão a mínima para "professores".
Nisso, no Brasil, é assim, depende .....
"Mas é mais liberal, tem mais alegria", digo eu.

Porre de bicicleta é diferente, ainda mais com tombo de verdade.
Depois do almoço, no dia seguinte, Andreas ainda dormia.
Eu sai às oito da manhã pra Universidade.

14-01-09

Karma de Kombi

O cara tinha liga pra Kombi.
Era como um imã no corpo,
saia pra caminhar,
uma Kombi cruzava seu caminho.

Chegava, em casa, do trabalho,
ia estacionar o carro, dito e feito,
na sua vaga, a Kombi do vizinho.

Pegava no sono,
despertava com o alarme
de uma incendiando na madrugada

Acabou casando com a tralha antiga.
Enquanto durou, foi infinito, como diz Vinícius.
Livrou-se do IPVA,
mas teve de ser internado...

14-01-09

Pré-escola

Recorro à palavra  mar

Simples de rimar
Também de sujar

Todo verão
Ela  assume um compromisso

Acolhe-nos  nas férias

Em troca
Recebe o lixo

Que jogamos
Nas suas artérias

14-01-2009

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Recifes à estibordo

Melhor não ancorar no arquipélago das anfetaminas
Difícil a navegação por estas águas

Depois, o corpo paga
Netuno manda a conta

Uma calmaria, uma tormenta
Um monta e desmonta
Viagem que laboratório nenhum sustenta

08-01-2009

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Es kommt darauf an

Lugar tão calmo
e agitado, esse no meu peito
leio Fernando Pessoa
segue a vida numa boa

Nem sempre é,
como se pensa,
a vida é muito mais densa
mais esperta que a gente

01-01-09

Feitiço do águia branca

É de manhã no águia branca

Aqui, moram a música e uma morena
Ambos fazem-me bem

Que pele, que curvas, que dona, que noite...
Onde eu me perco, também

É fogo de gente
É água corrente, que mata minha sede
Meu bem

01-01-09

Ortográfico porre

Um inerte pinguim de geladeira
Não está nem aí pro trema
Faceiro, põe-se a sonhar
Aberto a qualquer esquema

Enquanto assa-se o churrasco
Na segunda virada do espeto
O bichinho está perto do fiasco

Afinal, o que sou. Um enfeite?
Vivo aqui em cima, só não bebo leite
Quando termina a ceva gelada
Lá vai o pinguim, sem trema pela madrugada

01-o1-09

Seu nome em vão, jamais

Se felicidade é momento
E nele me realizo

Junto a você, eu sou eu
Com e sem juízo

01-01-09