Carregava uma, permanentemente, no bolso da camisa,
como se fosse um amuleto.
Se sua mulher era elétron, o Belico era próton.
Estavam apaixonados, a mulher do barbeiro e o Belico
E, nas tardes insuportáveis de verão,
enquanto o marido trabalhava, eles se amavam.
Ela, quando de quatro, na beirada da cama,
enxergava o paraíso, desde que fosse com o Belico.
Além do que, ela o tinha como o rei das preliminares.
O Belico se achava esperto. Tinha um amigo engraxate que ficava de prontidão, frente à barbearia.
Em caso de perigo,
enquanto estivesse na cama com ela, o guri lascava um
assobio característico, inimitável.
Naquele dia de quarenta graus, o guri descuidou.
Abandonou o posto e foi comprar um sorvete.
O barbeiro, louco de sede, resolveu ir até em casa
pra beber uma limonada.
Ela, de quatro na beira da cama, o Belico em pé. Ambos no céu.
O Belico despertou do transe quando
ouviu passos na sala.
Quando chegou à janela, o barbeiro segurava a peça
de sua coleção na mão.
Pelado, com meio corpo para fora do parapeito da janela, o Belico sentiu a nádega queimar. Ela resfriava, à medida que corria em disparada pela rua.
Nunca quis fazer uma plástica o Belico.
Nem queria esquecer aquela mulher. Manteve, até morrer , aquela cicatriz como troféu.
13-12-09
Nenhum comentário:
Postar um comentário