domingo, 13 de dezembro de 2009

A mulher do barbeiro

Moravam do outro lado da praça, pertinho da barbearia. O marido colecionava navalhas. Carregava uma, permanentemente, no bolso da camisa, como se fosse um amuleto. Se sua mulher era elétron, o Belico era próton. Estavam apaixonados. E, nas tardes insuportáveis de verão, enquanto o marido trabalhava, eles se amavam. Ela, quando de quatro, na beirada da cama, enxergava o paraíso, desde que fosse com o Belico, além do que, ela o tinha como o rei das preliminares. O Belico se achava esperto. Tinha um amigo engraxate que ficava de prontidão, frente à barbearia. Em caso de perigo, enquanto estivesse na cama com ela, o guri lascava um assobio característico, inimitável. Naquele dia de quarenta graus, o guri descuidou. Abandonou o posto e foi comprar um sorvete. O barbeiro, louco de sede, resolveu ir até em casa pra beber uma limonada. Ela, de quatro na beira da cama, o belico em pé. Os dois no céu. O Belico despertou do transe quando ouviu passos na sala. Quando chegou à janela, o barbeiro segurava a peça de sua coleção na mão. Pelado, com meio corpo para fora do parapeito da janela, sentiu um queimão na nádega, que resfriava, à medida que corria em disparada pela rua. Nunca quis fazer plástica, o Belico. Nem queria esquecer aquela mulher. Manteve, até morrer , aquela cicatriz como troféu.


 13-12-09

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