Temperaturas urbanas

Imagina-se seja o Paraíso cobiçado,  um shopping center no verão
Uma espécie de esconderijo,  pra quem não tem ar condicionado em casa

30-01-09

Muro e preconceito

Um cara, de seus sessenta anos,
vem em minha direção, na Lloyds Passage em Bremen,
ao mesmo tempo em que, do meu lado passa
um casal apressado 

 Ela, uma alemã loiríssima, de seus 28 anos,
linda de matar. Ele, um negro, suponho africano. Ambos trocam carícias.

O cara para na minha frente e diz: "Traurig, nicht? " (triste, não ?).
Eu respondo: "Trauriger sind die Bomben über Berlin 1945 gewesen, meinen Sie nicht? "
(Mais triste foram as bombas sôbre Berlin em 1945, o senhor não acha?)

Arregalou os olhos, estupefato. Devido a minha tez clara, talvez,
não contava que eu fôsse estrangeiro.

 Logo depois da queda do muro,
as coisas começavam a mudar para as duas Alemanhas.

Algo mais caia, além de um muro, a loira que o diga...

26-01-09

Cartas marcadas

Um pôquer fechado de poucas cadeiras para muitos jogadores
A vida blefa? Paga pra ver.

23-01-09

Meisenfrei

Pedi uma halbes Beck's von Fass,
Olhei pro Andreas e disparei:"Tô com saudades dos Brasil"

Natürlich, disse Andreas, como querendo me consolar.

Lá fora, uns 7, abaixo de zero. A rua, escorregadia como uma pista de esqui.

 E nós dois,de bicicleta, cada um com a sua, estacionadas frente ao bar.  Porque bom bebedor não se intimida.

O Meisenfrei fecha à uma da manhã.

Ceva vai, ceva vem, Andreas me conta que está apaixonado por  uma angolana. A familia dele não concorda com o namoro.

Pergunta como é no Brasil, pede conselhos.

Ele engana-se, certas matérias, como o amor , não dão a mínima para  conselhos de "professores", como eu.

"Nisso, no Brasil, é

 assim, depende"

"Mas é mais liberal, tem mais alegria", digo eu.

Porre de bicicleta é diferente, ainda mais com tombo de verdade.

Depois do almoço, no dia seguinte, Andreas ainda dormia.

Eu sai às oito da manhã pra Universidade.

14-01-09

Karma de Kombi

O cara tinha liga pra Kombi.
Era como um imã no corpo,
saia pra caminhar,
uma Kombi cruzava seu caminho.

Chegava, em casa, vindo do trabalho,
ia estacionar o carro, dito e feito.

Na sua vaga, a Kombi do vizinho.

Pegasse no sono,
despertava com o alarme
de uma Kombi.

Acabou casando com uma, literalmente, só que ela pegou fogo, superaqueceu.

Enquanto durou, foi infinito, como diz Vinícius.

Deu baixa pra não pagar mais imposto,
mas teve de que fazer terapia.

14-01-09

Pré-escola

Recorro à palavra  mar

Simples de rimar
Também de sujar

Todo verão
Ela  assume um compromisso

Acolhe-nos  nas férias

Em troca
Recebe o lixo

Que jogamos
Nas suas artérias

14-01-2009

Recifes a estibordo

Melhor não ancorar no arquipélago das anfetaminas
Difícil a navegação por estas águas

Depois, o corpo paga
Netuno manda a conta

Uma calmaria, uma tormenta
Um monta e desmonta
Viagem que laboratório nenhum sustenta

08-01-2009

Es kommt darauf an

Lugar tão calmo
e agitado, esse no meu peito

Enquanto leio Fernando Pessoa,segue a vida numa boa

Nem sempre é como se pensa

A vida é mais esperta que a gente, mais densa

01-01-09

Feitiço do águia branca

É de manhã no águia branca

Aqui, moram a música e uma morena
Ambos fazem-me bem

Que pele, que curvas, , que noite,
Onde me perco, também

É fogo de gente
É água corrente, que mata minha sede
Meu bem

01-01-09

Seu nome em vão, jamais

Se felicidade é momento
E nele me realizo

Junto a você, eu sou eu
Com e sem juízo

01-01-09